TRATANDO DOENÇAS DA ALMA: ETNOBOTÂNICA URBANA

  • Maria Hortencia Borges dos Santos Universidade Federal do Piauí
  • Juliana Cardozo de Farias Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA – UFPI
  • Irlaine Rodrigues Vieira Doutora em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA – UFPI
  • Roseli Farias Melo de Barros Universidade Federal do Piauí

Resumen

A perda de conhecimento relacionado ao avanço científico, serviços de saúde e globalização podem levar ao desuso das práticas ritualísticas locais, principalmente em áreas urbanas. Este fato sugere que as transformações socioculturais podem ocasionar o desaparecimento de práticas e conhecimentos relacionados à cura da alma. Deste modo, buscou-se levantar as plantas ritualísticas comercializadas por permissionários em mercados públicos de Parnaíba, Piauí, e verificar a origem das plantas e do conhecimento tradicional, além de expor as funções conferidas às espécies, considerando as práticas utilizadas. A presente pesquisa foi aprovada e consubstanciada pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Piauí (UFPI), sob o N° 2.975.850, e cadastrada na plataforma do Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético e do Conhecimento Tradicional (SISGEN - N° ABB2F8B). A pesquisa foi realizada na cidade de Parnaíba, Piauí, desenvolvida com 34 permissionários que trabalham nos mercados públicos da cidade. As plantas comercializadas foram coletadas em “turnês-guiadas”, identificadas e incorporadas ao acervo do Herbário Graziela Barroso (TEPB) da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Foram relatadas 23 espécies, distribuídas em 13 famílias. Lamiaceae foi predominante e a folha foi a mais citada (36.72%), seguida da planta inteira (27.30%), casca, bulbo, flor (10.40%, cada) e semente (4.78%). Os banhos foram os mais representativos (53%), seguidos de rituais de proteção (21%), absorção de energias ruins (14%), afastamento de energias negativas (6%) e simpatias (6%). As plantas comercializadas são adquiridas em quintais (65.9%) e compradas de fornecedores (34,1%), vendidas frescas (84%) e secas (16%). As espécies ritualísticas exóticas (74.68%) foram predominantes no estudo. O presente trabalho evidenciou o uso das plantas mágico-religiosas comercializadas por permissionários, também usadas como condimentos (10), revelando que o conhecimento tradicional também se encontra inserido em mercados públicos.

Publicado
2020-12-06
Sección
Artículos en extenso