Cosmovisão e etnoconservação nos manguezais do município de conde, litoral norte do estado da Bahia, Brasil
Abstract
Manifestações culturais, em muitos momentos, encontram-se associadas a ecossistemas e, portanto, inseridas na cosmologia de diversas comunidades tradicionais que deles sobrevivem. A partir da união entre essas representações e o conhecimento empírico acumulado se desenvolvem os sistemas tradicionais de manejo, fenômeno este evidenciado também em áreas de
manguezais, florestas tropicais e subtropicais estuarinas inundadas de grande relevância sócio-econômica e cultural para populações que sobrevivem diretamente de seus recursos. Na interação do ser humano com a natureza, destaca-se o sistema de crenças local, que deve ser levado em consideração em estudo de manejo e conservação dos recursos naturais. O trabalho
de campo foi realizado entre os meses de setembro de 2007 a outubro de 2008, e os meses de fevereiro, maio e dezembro de 2009, quando foram realizadas visitas mensais à sete comunidades pesqueiras localizadas no litoral norte do Estado da Bahia.
Os dados foram obtidos mediante consentimento informado por meio de entrevistas abertas e semiestruturadas, ocorridas em contextos variados e contando com a participação de 57 indivíduos, 48 homens e 9 mulheres, entre 10 e 78 anos. Os dados etnográficos foram analisados qualitativamente, considerando-se todas as informações citadas pelos sujeitos entrevistados.
No universo cosmológico desses entrevistados, evidenciou-se a crença em três entidades sobrenaturais: Vó da Lua, Caipora e Zumbi. Todos, segundo depoimentos coletados, desempenhariam um papel conservacionista ao expulsarem do mangue pessoas que exploram seus recursos de maneira irracional, preservando-o. Percebe-se, de fato, que o sistema de crenças associado à cosmologia local desempenha papel regulador na dinâmica do ecossistema, devendo, pois, ser utilizado na elaboração de sistemas de manejo tradicionais.