SEMEANDO SABERES: A ETNOBOTÂNICA E O QUINTAL NA VALORIZAÇÃO DO CONHECIMENTO DA MULHER AGRICULTORA

Resumen

Estudos etnobotânicos investigam as diferentes relações entre seres humanos e plantas. Comunidades tradicionais, como os agricultores familiares, possuem forte ligação com o meio natural que os cercam. Ao longo do tempo, essas comunidades desenvolveram técnicas de manejo e cultivo de diferentes espécies cultivadas em seus quintais. Na maioria das vezes, o cultivo deste quintal é feito pelas mulheres agricultoras, o que resulta em valioso conhecimento adquirido nas vivências do dia a dia. Este trabalho teve como objetivo investigar os saberes de uma agricultora tradicional sobre as espécies vegetais presentes em seu quintal, no Bairro Morro Albino, município de Criciúma, estado de Santa Catarina, sul do Brasil. Para conhecer a história da agricultora e sua ligação com as plantas, foi realizada pesquisa qualitativa onde utilizou-se o método História Oral- modalidade História de Vida. Para a coleta de dados sobre as espécies cultivadas pela agricultora, foi utilizada entrevista semiestruturada, seguida pelo método de turnê guiada, com registro fotográfico. Foram registradas 142 espécies, cultivadas pela agricultora, utilizadas para fins medicinais, alimentícios e ornamentais. A grande maioria das espécies medicinais é usada na forma de chá, preparado a partir das folhas da planta. Foram diversas as etnoindicações praticadas pela agricultora para as espécies medicinais, dentre elas destacaram-se: aumentar a imunidade, problemas respiratórios, cardiovasculares, estomacais e renais, calmante, picada de inseto, antibiótico, cicatrização de feridas, entre outros. As espécies utilizadas na alimentação apresentaram diferentes formas de uso, in natura, como fruta ou salada, cozida, frita ou como tempero. As partes mais consumidas destas espécies foram os frutos, folhas, raízes e tubérculos. As espécies ornamentais, para a agricultora, possuem o papel principal de embelezar o quintal.  O estudo revelou um rico conhecimento tradicional sobre a forma de uso de espécies vegetais, adquirido, desenvolvido e praticado pela agricultora ao longo de sua vida.