PLANTAS E RELIGIOSIDADES NA REGIÃO INSULAR DE BELÉM, PARÁ
Resumen
Os vegetais em contextos de cura podem expressar crenças, consagram ritos e são celebrados quando reestabelecem a saúde orgânica e espiritual do homem. O presente estudo foi pautado no olhar de três mulheres ribeirinhas que detêm o saber da medicina tradicional - especialistas locais - e pelas interfaces da botânica, da antropologia e das ciências da religião. O cenário das ilhas do Combu e do Murutucum é o lar das especialistas e onde a pesquisa se ancorou, um ecossistema de floresta de várzea localizado nas proximidades da cidade de Belém, Pará. A pesquisa objetivou analisar o uso de plantas em contextos de cura, interpretando seus papeis de sacralidade no tratamento de doenças, bem como a função social exercida pelas especialistas. Durante cerca de dois anos foram realizadas incursões aos locais e, com o auxílio de caderno de campo, registros fotográficos e gravações, coletaram-se dados por meio de observação não participante com três especialistas. Também foram aplicados outros métodos de investigação como entrevistas, turnê guiada e lista livre, além da análise dos Índices de Saliência Cultural (ISC) e Valor de Importância (IVs), a fim de identificar os vegetais mais frequentes e importantes nas práticas de cura. Foram relatadas 45 espécies vegetais, com destaque para a arruda, a catinga de mulata e o puxuri. Verificou-se que apesar do ambiente natural das ilhas encontrar-se bastante antropizado as plantas estão fortemente presentes na memória das três senhoras, que revelaram gradualmente seus conhecimentos botânicos e crenças individuais e coletivas na atenção à saúde. Por suas narrativas alguns medicamentos caseiros como chás e garrafadas, ganham protagonismo na região e expressam esperança e símbolos no êxito da cura.
