Ornitoáugures no povoado de Pedra Branca , Santa Teresinha, Estado da Bahia, Nordeste do Brasil

  • Ana Teresa Galvagne Loss Laboratório de Etnobiologia e Etnoecologia, Departamento de Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Feira de Santana, Bahia.
  • Eraldo Medeiros Costa-Neto Laboratório de Etnobiologia e Etnoecologia, Departamento de Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Feira de Santana, Bahia.
  • Fernando Moreira Flores Laboratório de Etnobiologia e Etnoecologia, Departamento de Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Feira de Santana, Bahia.

Resumen

Algumas aves emitem sons melodiosos, os quais, culturalmente, são interpretados de diferentes maneiras. Ornitoáugure define-se como “vocalizações atribuídas ao poder de prenunciar ocorrências naturais e/ou sobrenaturais”. O presente artigo registra os ornitoáugures segundo informações obtidas junto aos moradores do povoado de Pedra Branca, Santa Teresinha/Bahia. Os dados foram coletados de agosto de 2011 a dezembro de 2012 por meio de entrevistas semiestruturadas realizadas com 48 moradores, de ambos os gêneros, que indicaram 19 espécies de aves cujas vocalizações têm diferentes significados: funéreo, funesto, meteórico, societário e ditoso. Aracuã (Ortalis guttata) foi citada como prenúncio de chuva e de seca e a acauã (Herpetotheres cahinnans) foi a mais citada pelos moradores como ornitoáugure funéreo e meteórico, por possuir uma interpretação augural da voz traduzindo-se como adivinhador de morte e, dependendo do galho no qual esteja pousada, indica chuva. Anu-preto (Crotophaga ani) foi considerado agourento por possuir assobio melodioso e por cantar próximo à casa de um doente, anunciando sua morte. Como exemplo de ornitoáugure societário, citam-se o beija-flor (Trochilidae) e o bem-te-vi (Pitangus sulphuratus), porque seus cantos avisam chegada de visitas. O beija-flor, por possuir o comportamento de entrar, “piar” e sair das casas, foi classificado também como ornitoáugure ditoso ou funesto, significando notícias boas ou ruins. Desta forma, observa-se a existência da interação afetiva dos moradores com avifauna local, dentro da perspectiva da transmutação zoossemiótica, onde eles interpretam os sinais emitidos tanto pela vocalização quanto pelo comportamento, e os classificam. Assim, os moradores possuem um conhecimento etnoornitológico significativo que é transmitido ao longo de gerações.

Publicado
2015-11-27
Sección
Artículos en extenso